terça-feira, 23 de junho de 2015

Sobras Inteiras
























De tudo,
alguma folha caiu da árvore
sobre a minha dormência.
Alguma flor abriu-se,
retornando-me à inocência.

De tudo,
alguma caminhada interrompida
tornou-me renascida
sem que fosse parida
ou que precisasse morrer
para enxergar a vida.

De tudo,
alguma descoberta inexata
fez-me aceitar a sonata,
compreendendo as divergências
terminantes em harmonia
por simples simpatia.

De tudo,
alguma passagem me concedeu a vida
e, elemento da minha própria torcida,
aplaudi-me com bravura,
reparando a rachadura
que o silêncio não se levantou para ver.

De tudo,
fiz dos meus escritos
os sonhos mais bonitos,
os ombros mais consistentes,
as horas mais absorventes,
as histórias mais verdadeiras,
as horas mais Catarineiras
que a velhice teme em se aproximar.

De tudo,
a alguma soma de idade cheguei.
Embalei o tempo, fiz minha única lei.
Não morri antes e nem tentei,
mas se tivesse que morrer agora,
não deixaria que a vida me colocasse para fora,
mas que a morte desistisse um pouco mais de mim.

De tudo,
não planejei despedida,
se faço de cada partida
um recomeço de vida.


Catarina Fontan
(Manuscrito datado: Dezembro 2005)

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